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Exame de Suficiência testa futuros profissionais

Mais de 44 mil pessoas colocaram seus conhecimentos à prova no Exame de Suficiência em mais de 100 cidades do Brasil, entre eles 37.225 bacharéis em Ciências Contábeis e 7.300 técnicos em contabilidade

Calculadora, lápis, borracha e muita atenção acompanharam os mais de 44 mil profissionais, entre contadores e técnicos,  que prestaram o Exame de Suficiência no domingo, dia 24 de março, em todo o País. No Rio Grande do Sul, 2.600 foram inscritos. A aprovação, que exige acerto de pelo menos 50% da prova, é requisito para obter o registro profissional nos Conselhos Regionais de Contabilidade. No Brasil, somente os cursos de Direito e Contabilidade se utilizam desse recurso para medir o conhecimento e nivelar o mercado. Instituída em setembro de 2010, pela Lei nº 12.249/2010, a avaliação  vem demonstrando um índice muito baixo de aprovações. A segunda edição do ano de 2012 reprovou 70% dos inscritos, segundo o presidente da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC), José Martonio Alves Coelho. As provas são elaboradas e coordenadas pela entidade.  O presidente espera que, a partir deste ano, o nível de aprovação cresça. “A expectativa é de que melhore”, reforça, ao atribuir os baixos índices de aprovação à fraca qualidade do ensino.  

Com o resultado, a entidade realiza uma avaliação que é enviada para as universidades sobre a performance de cada instituição, as faculdades e as escolas podem, assim, ter um feedback da qualidade do que transmitem aos seus estudantes. “A gente manda individualmente para eles saberem como estão se saindo e avaliarem o grau de dificuldade que os alunos tiveram”, comenta. Preocupado com os índices anteriores, Coelho diz que isso é um retrato da educação no Brasil. Recentemente o Ministério da Educação (Mec) assinou acordo de cooperação técnica com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a fim de estabelecer novas regras de política regulatória do ensino jurídico, visando à melhoria dos cursos de Direito no País. Feliz com a decisão do ministério, o presidente adiantou que o órgão também está em tratativas com o Mec para realizar a mesma parceria, o que poderá, segundo ele, contribuir ainda para a melhoria do ensino. “Hoje já temos um convênio com Ministério, mas queremos sentar e conversar para que possamos dar a nossa contribuição”, disse ele. O Brasil possui hoje mais de 1.100 escolas de Ensino Superior em Ciências Contábeis. A preocupação, segundo ele, não é com a quantidade, mas com a qualidade dessas instituições.   

Otimista com a edição de 2013, o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Zulmir Breda, acredita num aumento do índice de aprovação. “Na última edição já tivemos uma queda de reprovados, mas o aluno tem que procurar melhorar sua formação”, acrescenta.

Contadores tiveram dificuldades com questões conceituais

Todo exame de contabilidade exige cálculos e conhecimentos teóricos da matéria. Para a bacharel Carla Goulart, a prova não estava difícil, mas cansativa, pelo excesso de leitura. Em sua primeira vez no exame, Carla já trabalha há 10 anos na área e considera necessário qualificar o mercado, pois as mudanças exigem muito estudo e preparo. Apesar disso, ela reclama que a valorização dos contadores ainda não é adequada. “Nossa remuneração ainda está inferior ao que deveria”, reclama, mas aposta na campanha do Conselho Federal de Contabilidade que elegeu o ano de 2013 como o ano da Contabilidade. 

O bacharel Felipe Spolavori fazia o teste pela primeira vez e, para ele, o nível de dificuldade mereceu nota sete. Trabalhando a dez anos na área, considera importante o Exame de Suficiência para nivelar a concorrência. “Contabilidade é divertido, pois só tem encrencas”, satiriza. Já a colega Milene Selau atribui nota oito para a prova. Ela se forma no final de 2013 e ainda não tem planos de entrar no mercado, pois no momento prefere continuar no trabalho em que está como bancária. 

Para o diretor-técnico do Conselho Regional de Contabilidade (CRCRS), Décio Neves, as provas estão realmente mais trabalhosas, mas acredita que é necessário exigir cada vez mais, pois o próprio mercado fará isso. “A aprovação tem sido abaixo de 50%”, reclama. Esse resultado, diz ele, é bem mais profundo do que atribuir somente às faculdades. Em sua opinião, o problema está no ensino básico. “A educação tem sido relegada a um segundo plano, infelizmente”, lamenta.  

Quem prestou exame para o técnico, teve que estudar contabilidade geral, contabilidade de custos, Direito; matemática financeira; legislação e ética profissional; princípios de contabilidade e normas brasileiras de contabilidade e língua portuguesa. Já para os contadores, as provas eram acrescidas de contabilidade aplicada ao setor público; contabilidade gerencial; controladoria; teoria da contabilidade; legislação e ética profissional; auditoria contábil; perícia contábil; matemática financeira e estatística.

Prova foi considerada mais fácil

Na Capital, no dia 24 de março, na Faculdade Dom Bosco, o clima era tenso. Em meio aos cálculos e rabiscos, as mãos que apoiavam a cabeça deixam transparecer a atenção e o cansaço mental. Mas para a técnica em Contabilidade, Milene de Oliveira, a prova não foi uma surpresa. “Estava dentro do que eu estudei”, comenta satisfeita. Ela mal encerrou o segundo grau e já fez o vestibular para Ciências Contábeis, na Cesuca - Complexo de Ensino Superior em Cachoeirinha. Para ela, o embasamento que o ensino técnico lhe proporcionou está facilitando seus estudos na faculdade. “Tem muita gente que entra sem noção alguma”, comenta ao explicar o grau de dificuldade de alguns colegas de profissão.

“Achei essa prova mais fácil”, expressou o técnico contábil Julcemar Sangalli Costa, que fazia o exame pela segunda vez e está cursando nível superior na Faculdade São Judas Tadeu. “Da outra vez esqueci a máquina de calcular e não consegui fazer os cálculos”, justifica. Costa já trabalha em escritório de contabilidade e já está acostumado à linguagem da profissão. Apesar de tê-la  escolhido por acaso, pois na escola em que estava o segundo grau oferecia essa opção, ele está satisfeito com a decisão tomada. 

Com a voz roca, Elise Rench saiu da sala muito mais cansada do que imaginava. Formada em técnico contábil na noite anterior ao exame, ela não quis esperar as provas de setembro, quando acontece a segunda edição do exame deste ano, preferiu fazer logo para testar seus conhecimentos. “Passei a semana em função dos preparativos para a formatura e não consegui estudar”, conta com dificuldade de encontrar a voz. “Nunca fiz nem concursos”, brinca.  Otimista ela diz que o mercado está em alta e já chegou a recusar propostas de emprego. “Acho que esse é um ano bom para a contabilidade”, reforça. Em razão disso, ela já está se preparando para fazer o curso superior. 

Édina Rodrigues de Borba veio de Capão da Canoa prestar o exame. “É a terceira vez que faço”, diz, um pouco desanimada. Na primeira prova, conta que teve 17 acertos de um total de 50 questões, mas precisava de 25 para passar. Na segunda, acertou 23. “Errei duas questões de juros simples”, lamenta. A diferença é que, nessa terceira tentativa, ela fez cursinho preparatório e o estresse diminuiu. Mas Édina prestou exame para garantir carteira profissional como técnica, embora já seja bacharel. Ela trabalha na área em um escritório de contabilidade em sua cidade e, dessa vez, achou que havia menos cálculos a fazer. “Achei mais fácil”, diz.

Para Jessica Agostinho Guedes, formada no curso técnico em administração e contabilidade, pela SEG - Escola de Educação Profissional Cecília Meireles, a contabilidade ainda não é a primeira opção.  Fez a prova porque o curso que fez lhe propicia atuar nas duas áreas, mas seu coração bate mais forte pela área administrativa. “Uma profissão agrega a outra, mas se eu for fazer faculdade vou fazer de administração”, justifica. 

Graças a experiência do dia a dia na empresa, Gibran Oliveira, técnico em contabilidade, acredita que tirou de letra a prova do domingo. “Tinha algumas questões conceituais que a gente tem que saber e estudar mais, mas a prova estava adaptada ao que se usa diariamente”, garante. 
Apesar de parecer mais fácil, o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Zulmir Breda, disse que as provas continuam com o mesmo rigor, mas acredita que os alunos estudaram mais, devido ao resultado dos últimos exames. “Acho que eles se preparam melhor”, avaliou.