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Corte na taxa de juro pode chegar a 1,5 ponto

Redução maior na Selic deve ser alternativa do Banco Central para conter onda de demissões, trava na produção e redução no consumo

Vicente Nunes e Daniel Pereira Redução maior na Selic deve ser alternativa do Banco Central para conter onda de demissões, trava na produção e redução no consumo A forte queda da atividade econômica, que provocou uma onda de demissões no país, poderá levar o Banco Central a reduzir a taxa básica de juros (Selic) em até 1,5 ponto percentual na próxima semana, dos atuais 13,75% para 12,25%. Segundo o economista-chefe do Banco Credit Suisse, Nilson Teixeira, somente uma postura mais agressiva como essa do Comitê de Política Monetária (Copom) conseguirá reverter a onda de pessimismo que tomou conta do país e travou a produção e o consumo. Para ele, o ideal é que haja duas queda seguidas de 1,5 ponto, uma neste mês, outra em março, com a Selic estacionando nos 10,75% ao ano. Caso, porém, o BC opte por não ser radical, o economista do Credit Suisse acredita que o Copom poderia promover três baixas consecutivas de um ponto cada uma, movimento que, na sua avaliação, também contribuirá para mudar os ânimos de empresários e consumidores. A seu ver, há razões de sobra para o BC ser mais ousado na condução da política monetária. A produção industrial tombou 8,8% no acumulado de outubro e novembro e deve ter caído mais 8% em dezembro. Além disso, a taxa de desemprego está caminhando rapidamente para os 9%. “No nosso entender, nem uma redução de 0,5 ponto nem uma queda de 0,75 ponto são compatíveis com os indicadores recentes de atividade econômica, que indicam retração bem mais expressiva do que a esperada pelos analistas”, afirmou. O economista Gian Barbosa, da Consultoria Tendências, também aconselha ao BC não perder tempo e cortar a Selic em pelo menos um ponto na semana que vem. Segundo ele, a drástica paralisia da produção e do consumo e o tombo da inflação são suficientes para justificar uma decisão técnica nessa direção. Barbosa ressaltou que a deflação de 0,85% medida pelo Índice Geral de Preços 10 (IGP-10) de janeiro e divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) afastou qualquer risco de aumento do custo de vida. “Pelo contrário, todas as projeções apontam para a inflação em baixa. Tanto que revisamos de 4,8% para 4,2% a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano”, assinalou. Essa previsão indica que a alta de mais de 50% do dólar desde agosto de 2008 será integralmente compensada pela queda de matérias-primas (commodities) no exterior. Lula confiante Apesar da consistência de todos esses argumentos em favor de um BC menos conservador, há uma grande divisão no mercado. “Que os juros vão cair, não há dúvidas. Mas, dado o histórico gradualista do BC, continuo apostando em um corte de apenas 0,5 ponto percentual na próxima semana”, disse Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING. Para Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset Management, não há qualquer justificativa para o Copom não reduzir a Selic em 0,75 ponto. Essa mesma previsão é feita pelo economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, que aposta em uma retração de 9,8% na produção industrial de dezembro. Em meio a um mercado tão dividido, o que não se via há anos, o presidente Lula espera uma baixa de pelo menos 0,5 ponto da Selic. Em conversas com auxiliares, ele lembrou que uma redução desse tamanho é o mínimo esperado pelo mercado, com quem a autoridade monetária sempre mostrou sintonia nos últimos anos. “O grosso do mercado acha que haverá um corte entre 0,5 e 0,75 ponto percentual. Se o BC coordena expectativas, esse é um dado importante”, disse um ministro. Para ele, a mudança na conjuntura abriu uma janela técnica para a queda da Selic. “Até junho do ano passado, importávamos inflação, e o BC agia para conter a demanda. Depois de setembro, importamos deflação”, declarou. Foi essa deflação, por sinal, que levou o Banco Central Europeu (BCE) a reduzir ontem em 0,5 ponto, para 2% ao ano, a taxa básica de juros da Zona do Euro. Na Turquia, os juros caíram dois pontos, para 13% ao ano. Com esse movimento, a Turquia deixou de ser o país com a maior taxa do mundo, posto que voltou a ser ocupado pelo Brasil, com seus 13,75%. Com gabinete no Palácio do Planalto, o ministro é um dos integrantes do chamado núcleo duro do governo que preferem elogiar o BC a fritá-lo antes das reuniões do Copom. Tal estratégia ganhou adeptos depois da constatação de que o comitê, quanto mais pressionado, mais age para demonstrar autonomia e confrontar as pressões contidas, por exemplo, no Ministério da Fazenda. “O BC tem uma folha extraordinária de serviços prestados à estabilidade monetária”, afirmou. No nosso entender, nem uma redução de 0,5 ponto nem uma queda de 0,75 ponto são compatíveis com os indicadores recentes de atividade econômica, que indicam retração bem mais expressiva do que a esperada pelos analistas Nilson Teixeira, economista-chefe do Banco Credit Suisse Inadimplência sobe 8% O nível de inadimplência do consumidor brasileiro (foto) cresceu 8% em 2008, uma alta de 6,3 ponto percentual em relação ao crescimento de 1,7% em 2007. Segundo a Serasa, a dívida com bancos foi a mais recorrente (43,2%). Em seguida estão as dívidas com cartões de crédito e financeiras (33,7%), os cheques devolvidos (27,2%) e títulos protestados (2,6%). Em dezembro, a inadimplência do mês subiu 2,5% em relação a novembro. Na avaliação do assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, a diminuição da renda dos consumidores, afetada pela inflação nos itens básicos, influenciou a alta da inadimplência. Ele também destaca o aumento dos juros básicos da economia, a Selic, que subiu 2,5 pontos percentuais no ano, e a elevação dos juros devido às incertezas causadas pela crise financeira mundial. Para o início de 2009, a tendência é de novos aumentos no nível de inadimplência.